Uma narrativa de como o amor incondicional pela filha, transformou completamente a visão de um pai sobre sua ótica religiosa.

Nem sempre aquilo que pensamos ser certo e definitivo corresponde ao plano de Deus.

O livro fala sobre a história do Estado do Pará e uma das maiores manifestações religiosas do mundo: o Círio de Nazaré.

31 de agosto de 2011

Inspirações para o livro...

Esse é o meio de transporte na Ilha de Algodoal. É um lugar muito legal em que não há carros e as ruas não são de asfalto. Parece uma viagem no tempo. Como mencionei a ilha no “Mar de Gente”, fiz questão de falar sobre esse táxi inusitado. Lá no livro digo que é o “táxi lunar”, pois foi este mesmo o nome que demos. Eu escutava Zé Ramalho direto nessa época (ainda escuto), e só me veio essa música na mente enquanto fazíamos o primeiro tour pela região...

Sei que os estudiosos do significado desta letra conjecturam que a música toda tem um duplo sentido ligado à uma outra curtição, que não é a minha, e nisso encontro a beleza da arte: duas pessoas olham para o mesmo objeto e tem sensações diferentes. Um dia retornaremos à Algodoal, e será um prazer passear com os nossos filhos nestes táxis lunares. “Apenas apanhei na beira-mar, um táxi pra estação lunar”.

Essa é a praia da Princesa em Algodoal. Reparem a imensidão plana do local. Não foi à toa eleita uma das dez praias mais bonitas do Brasil. E olhem que fizemos essa foto com uma máquina convencional totalmente amadora. A maré enche em questão de minutos e toma todo o lugar. O desnível é muito pequeno. Engraçado que é uma imagem que contrasta com a que fazemos quando falamos em Amazônia, no entanto, esta é a parte da Amazônia que encontra com o mar, bem na região nordeste do Estado do Pará. Indico este lugar com certeza para os que gostam de paz, natureza exuberante, praias limpas e espaço para se renovar da correria da vida.

Aqui estou no coração da Amazônia, andando em uma “voadora”, que é como chamam estas lanchinhas com um motor potente, indo visitar uma madeireira encravada na floresta. Só um detalhe, esta foto tem quase uns dez anos. Mas o incrível de tudo é como o tempo não conseguiu apagar a admiração que senti ao entrar em contato com a grandiosidade deste lugar. Anos depois, ao escrever o “Mar de Gente”, coloquei o mesmo espanto que tive, desta vez utilizando as personagens Ana e Yasmim. Quando entramos em contato com tamanha imensidão, inevitavelmente começamos a pensar na nossa responsabilidade de preservar o meio ambiente. Talvez o livro sirva para mostrar ao mundo que tudo isso ainda existe e que depende de nós deixar que as gerações futuras tenham o mesmo espanto e admiração ao serem apresentadas à Floresta Amazônica.

Esta foto e a próxima, mostram os barcos que cito no “Mar de Gente”,  que servem como meio de transporte, instrumento de trabalho e moradia de centenas de famílias ribeirinhas. No romance descrevo o encontro de olhares da criança Yasmim, filha de Paulo, com uma criança ribeirinha, moradora de um desses barquinhos.

O contraste das realidades é gritante. Enquanto a criança da cidade grande sonha com a casa de bonecas, a ribeirinha sonha com uma casa de verdade.

Aqui estou fazendo o trabalho de fiscalização em uma madeireira. Realmente nunca imaginei na vida que um dia teria esta experiência. Engraçado como os concursos me trouxeram até aqui, e como esta vivência possibilitou a construção de capítulos do “Mar de Gente”.  Tento entender um pouco mais sobre o destino e como a vida vai formando um entrincado de situações que moldam a nossa forma de ser e ver o mundo. O Alex de hoje agradece à este Alex da foto, que agradece ao Alex concurseiro de alguns anos antes.

Tenho o maior carinho por esta cidade: Breves. Antes de trabalhar na Receita, não tinha a menor idéia de sua existência, como infelizmente acontece com a maior parte dos brasileiros que moram nas regiões Sul e Sudeste, e que não tem oportunidade de conhecer a Amazônia. É impressionante uma cidade se desenvolver completamente cercada pela floresta. Os meios de acesso são por via aérea ou fluvial.  Não pensem que é uma cidade pequena, com raras pessoas andando pelas ruas. São quase 100 mil pessoas. O comércio madeireiro é o que movimenta a região.

Torço muito para que o país se desenvolva e crie oportunidades para que Breves possa florescer como um pólo moveleiro ou outra indústria de manufatura madeireira, possibilitando infraestrutura para esse povo guerreiro da Amazônia.

No “Mar de Gente” falo do acidente que ocorre em muitos rios, cachoeiras e locais pedregosos próximos ao mar, o mergulho em água rasa. É um acidente muito comum em que as pessoas sofrem lesões graves na coluna. Calculam mal um salto e de bobeira podem perder os movimentos ou a vida. Neste salto eu tinha 20 anos, e graças à Deus dei sorte de não ter acontecido nada. 15 anos depois, em um mergulho na piscina, fraturei duas vértebras, e por um milagre não sofri seqüelas. Hoje, não quero mais saber de qualquer tipo de esporte ou brincadeira que tenha um mínimo de risco. A vida é muito boa, mas ao mesmo tempo é frágil. Só temos a certeza disso quando passamos por uma situação em que poderíamos perdê-la. Quem mesmo assim, quiser andar de moto, pular de pára-quedas ou qualquer esporte radical, recomendo cautela total, equipamentos milimetricamente analisados e sempre com instrutores e amigos por perto que possam dar um primeiro socorro em caso de acidente. Não arrisquem essa beleza que é a vida de forma irresponsável.
Este momento me inspirou a escrever um dos primeiros capítulos do “Mar de Gente”. Nesta foto, é a missa de abertura do Círio acontecendo na Praça da Sé. Percebam que ainda está escuro, o dia está amanhecendo. No livro é a parte em que Ana segura Yasmim e chora copiosamente, levantando rumores de duas pessoas fofoqueiras alguns metros atrás.

Esta foto é quando a missa acaba. Vemos a multidão começando a se movimentar. À frente está a Guarda de Nossa Senhora de Nazaré, carregando uma armação de metal que servirá para fazer a conexão da Berlinda com o início da corda. Lembro deste momento, quando estávamos eu e a Bianca, tentando observar o movimento de perto. Passei por um susto, pensei que seríamos pisoteados ou apertados pela multidão. E pior que achava que ela estivesse grávida, aí que fiquei desesperado mesmo, mas no final deu tudo certo. No livro explico que não dá para atrelar a corda desde o início na saída da Berlinda da Praça da Sé. A corda necessita de um espaço maior para transitar, com retas mais extensas e áreas de escape para a multidão. Por isso, a Av.Castilhos França, onde fica o Mercado do Ver-o-Peso, é o local mais apropriado para a junção da corda à Berlinda.



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